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#D24 – Que tipo de busca temos tido para com Deus?

Duas palavras que revelam a profundidade da nossa busca

Nos últimos meses, decidi me aprofundar mais em meus estudos bíblicos. Depois de ler todo o Novo Testamento, tenho intercalado um livro do Novo e um do Antigo Testamento.

Venho estudando-os buscando seus significados nos originais (grego e hebraico), e isso tem sido surpreendente. É incrível como leituras de versículos que já vi diversas vezes parecem novas. Vejo e compreendo aspectos que nunca tinha notado antes.

No meio desse estudo, analisei o livro de Oséias.

Hoje gostaria de trazer um estudo baseado em duas palavrinhas que, na nossa tradução, aparece como uma só palavra, mas que no original são duas diferentes. Isso nos revela um sentido bem mais profundo e completo!

Se você não conhece ou nunca leu o livro de Oséias, saiba que ele tem o objetivo de mostrar o amor de Deus por Seu povo pecador — ou seja, por nós. O livro de Oséias é uma história de amor: real, trágica e verdadeira.

Porém, hoje não vou falar do livro todo, mas apenas de 2 versículos. Antes, precisamos entender o contexto e o que o capítulo 5 aborda.

No capítulo 5 de Oséias, o profeta denuncia tanto a liderança religiosa (sacerdotes) quanto a política (casa real) e também o povo por sua idolatria e rebeldia contra Deus. Ele mostra que, apesar de Israel tentar esconder seus pecados, o Senhor vê tudo claramente. Oséias destaca a corrupção que se infiltrou em todos os níveis da nação e alerta que o castigo divino é inevitável, a menos que haja arrependimento genuíno.

Propósito do capítulo:

  • Confrontar a liderança: Sacerdotes e casa real são responsabilizados por guiar o povo para longe de Deus.

  • Revelar a onisciência do Senhor: Mesmo que Israel tente ocultar seus pecados, Deus conhece cada transgressão.

  • Advertir sobre o julgamento: Deus retirará Sua presença se não houver arrependimento sincero; nenhum sacrifício externo ou religiosidade aparente trará alívio sem mudança de coração.

  • Chamar ao arrependimento genuíno: O capítulo enfatiza a urgência de voltar ao Senhor, abandonando a idolatria e a hipocrisia.

A principal mensagem de Oséias 5 é que não há como escapar do olhar de Deus ou manipular Sua justiça. A verdadeira adoração exige integridade, e aqueles que se recusam a reconhecer seus erros e a buscar ao Senhor enfrentarão as consequências de sua infidelidade.

Então, lemos nos versículos 5 e 6:

“A soberba de Israel testificará, pois, no seu rosto; e Israel e Efraim cairão pela sua injustiça, e Judá cairá juntamente com eles. Eles irão com as suas ovelhas e com as suas vacas para buscar o SENHOR, mas não o acharão; ele se retirou deles.”
(Oséias 5:5-6)

E, nos últimos 2 versículos desse capítulo (14 e 15):

“Porque, para Efraim, serei como um leão e, como um leãozinho, para a casa de Judá; eu, eu despedaçarei e ir-me-ei embora; arrebatarei, e não haverá quem livre. Irei e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, de madrugada me buscarão
(Oséias 5:14-15)

Em ambas as situações vemos o verbo “buscar,” mas o interessante é que no original elas não são as mesmas palavras!

No versículo 6 — “buscarem o SENHOR” — é usado o verbo baqash; enquanto no versículo 15 — “de madrugada me buscarão” — é usado shachar.

  • Baqash aplica-se a buscar de modo mais “externo,” com certo esforço e diligência, porém podendo ser superficial.

  • Shachar, por sua vez, indica um buscar intenso, madrugar para encontrar algo ou alguém; ou seja, “levantar-se cedo” com prioridade e fervor.

No contexto, Israel levava ofertas e sacrifícios como parte de uma busca ritual (baqash). Entretanto, a busca era vazia, apenas formal e sem arrependimento verdadeiro. O povo realizava atos externos de religiosidade, mas com o coração longe de Deus.

shachar aparece quando Deus antevê o momento em que o povo, em meio à angústia, finalmente o procurará de forma sincera e urgente. Diferente de baqash, que descreve um esforço mais mecânico, shachar reflete um clamor interno e desesperado, resultado da consciência de quão vital é a presença do Senhor. Esse tipo de busca surge de dor e arrependimento genuíno.

Resumindo:

  • Baqash: um buscar mais superficial, ritual e sem grande transformação interior, resultando em uma busca que não encontra Deus.

  • Shachar: um buscar profundo e fervoroso, motivado por arrependimento e urgência real — o tipo de busca que Deus deseja, em que o povo reconhece sua culpa e se volta a Ele de coração.

A sutil mudança de vocabulário expõe uma evolução esperada de Israel. Deus não responde a buscas meramente externas, mas sim à busca fervorosa, arrependida e que brota de um coração renovado.

Isso nos confronta: Que tipo de busca temos tido pelo Senhor? Uma busca baqash — religiosa, formal, sem vida — ou shachar — profunda, sincera, faminta por Sua presença?

Temos buscado a Deus de maneira “mecânica,” com orações decoradas, rituais religiosos, rotinas sem coração, ou temos de fato fome e sede da Sua presença, sedentos por Sua Palavra e direção?

É muito fácil cair numa rotina: nosso tempo devocional fica cada vez mais curto, nossas orações se tornam robóticas e decoradas. Esquecemos que esse momento devocional não é um “check” na agenda, mas um instante de devoção à pessoa mais importante de nossas vidas.

Será que temos buscado o Senhor intencionalmente, com corações arrependidos e anseio genuíno, ou de forma superficial e mecânica?

Ore pedindo ao Espírito Santo que sonde seu coração. Clame por um coração quebrantado, entregue, por uma mente transformada, por intimidade com Deus, fome e sede da Sua presença. Que nossa busca não seja apenas “baqash,” mas “shachar” — intensa, apaixonada e arrependida —, levando-nos a encontrar verdadeiramente o Senhor.